segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Do porque das adversidades

"Assim é: as mulheres só tiveram informações falsas sobre o amor. Muitas informações diferentes, todas falsas. E experiências inexatas. No entanto, sempre confiantes nas informações, não nas experiências. Por isso tem tantas coisas falsas na cabeça.
- Eu gostaria, sabe, nós, as moças – diz. – Os homens: coisas lidas, coisas ditas entre nós no ouvido desde meninas. A gente aprende que aquilo é mais importante que tudo, a finalidade de tudo. Depois, sabe, percebo que nunca se alcança aquilo, aquilo de verdade. Não é mais importante que tudo. Eu gostaria que nada disso existisse, que agente pudesse não pensar nisso. Mas a gente sempre espera. Talvez seja preciso ser mãe para alcançar o verdadeiro significado de tudo. Ou prostituta.
É isso: maravilhoso. Todos nós temos uma explicação secreta. Basta descobrir a explicação secreta e ela não é mais uma estranha. Ficamos enroscados bem juntinhos um do outro, como cachorros grandes ou divindades fluviais.
- Sabe - disse Mariamirellla - , talvez eu tenha medo de você. Mas não sei onde me refugiar. O horizonte é deserto, só tem você. Você é o urso e a gruta. Por isso estou agora enroscada em seus braços, para que você me proteja do medo de você.
Só que para as mulheres é mais fácil. A vida corre dentro delas, grandes rios dentro delas, as continuadoras, há a natureza segura e misteriosa dentro delas. No passado, havia o grande matriarcado, a história dos povos fluía como a das plantas. Depois, o orgulho dos zangões: uma revolta, eis a civilização."

Ìtalo Calvino - Um general na biblioteca (página 45)